quinta-feira, 21 de maio de 2009

MUTLEY, FAÇA ALGUMA COISA!


Conheço duas espécies de ARROGÂNCIA. Numa delas a pessoa se vê como supra-sumo da existência e trata os demais de forma condescendente, perdoando o erro mais vil por considerar que outro jamais será uma pessoa tão elevada quanto ela. Quem pensa assim sofre pra chuchu e vive na ilusão de que é altruísta. Quando o assunto é cinema, o melhor filme que mostra este tipo de ARROGÂNCIA é DOGVILLE. Ênfase para uma das cenas finais em que a ‘boazinha’ Grace é confrontada pelo pai.

Só para contextualizar a cena, basta dizer que Grace trabalhava de graça para toda Dogville, era insultada, estuprada e mesmo assim ela ainda morria de dó de todo mundo, pois achava que ninguém tinha os mesmos altos padrões morais iguais aos dela.



Na outra forma de ARROGÂNCIA, os sentimentos são os mesmos, mas o sujeito age de forma diferente. É uma daquelas pessoas profundamente incomodadas com os outros à sua volta, achando que toda vida existente no universo está lá para servi-lo. Aqui entra a famosa CORRIDA MALUCA e meu amigo Dick Vigarista. Experimentem assistir ao desenho com este olhar e logo vão perceber - assim como eu percebi - que o Dick Vigarista não quer apenas ganhar, de fato, ele NÃO QUER É QUE OS OUTROS GANHEM OU SEQUER CRUZEM A LINHA DE CHEGADA!!!! A maior parte das suas artimanhas é no sentido de liquidar os outros concorrentes.



Quando as coisas dão errado – e sempre dão - Vigarista não reconhece suas falhas e quer que o universo conserte os erros que ele mesmo criou. Se não responsabiliza deus ou o universo diretamente, ele cobra do seu companheiro de equipe em seu sonoro bordão: ‘MUTLEY, FAÇA ALGUMA COISA!!!!!’

Por que o Mutley deveria fazer algo a respeito se a idéia estúpida foi do próprio Dick Vigarista? Se você puxar pela memória, vai com certeza se lembrar de alguém assim: um parente, um chefe, um coordenador de faculdade, uma namorada... que também acreditam que podem ‘terceirizar’ as responsabilidades frente a vida. Se você for ARROGANTE do primeiro tipo, vai sair correndo para acudir a pessoa e quebrar a cara. Então, faça igual ao Mutley, o cachorro genial: ria e não se envolva.

Como o Mutley é sábio!!!! Ao invés que tomar as dores do Dick Vigarista para si, ele dá aquela risada típica, como se falasse: ‘DANE-SE, QUEM MANDA QUERER FAZER ALÉM DA CAPACIDADE!?’.

Na versão mais light, são como o Dick Vigarista todas aquelas pessoas que sonham que vão conseguir moldar o mundo e os outros do jeito que elas querem. Alguns coordenadores são incompetentes para organizar um simples calendário acadêmico de uma faculdade, começam as aulas em março, criam bimestres de ‘apenas um mês’ e quando as monografias dos alunos atrasam, eles dizem: ‘MUTLEY, FAÇA ALGUMA COISA!!!!’ Certos namorados não sabem lidar bem com o ciúme e, ao invés de perceberem que o ciúme é um problema próprio, viram para a parceira e cobram: ‘MUTLEY, FAÇA ALGUMA COISA!!!’ O Fernando Henrique não investiu em hidrelétricas e quando o APAGÃO aparecia como um fantasma, o tucano disse ao povo: ‘MUTLEY, FAÇA ALGUMA COISA!!!’

O bom amigo, amante, chefe, subordinado, cidadão, etc. e tal... é aquele que age feito o Mutley. Não pega os problemas dos outros para si, apenas olha e dá risada...

A ARROGÂNCIA é como uma hipertensão, uma doença silenciosa. Eu percebo na hora que estou com raiva, medo ou pena, mas para sentir a minha própria ARROGÂNCIA, demora... Às vezes quando percebo a danada, uma situação já está formada e lá vai eu tentar resolver as coisas que eu mesmo criei, por não ver visto logo de cara. Agora quero ser como o bom e velho MUTLEY, cuidando só das minhas coisas, daquilo que eu posso resolver. Aquilo que não posso resolver pelo menos no momento, eu só vou dar uma olhada e soltar um sonoro ‘HI HI HI HI HI...’



Cristian Boragan

terça-feira, 19 de maio de 2009

CRÔNICA - QUERO CASAR COM SUZANE LOUISE VON RICHTHOFEN


Sabe, cansei de ser solteiro. Todo mundo já fez besteira na vida e agora é a minha vez. Alguns sonham com as Giseles, outros são chegados no bom ‘arroz com feijão’, quer dizer, sonham mesmo com um ‘feijão com Arósio’. Eu não. Quero entrar na igreja - com direito a todas as cafonices - de mãos dadas com Suzane Louise Von Richthofen.

Depois do casório, passaríamos a LUA DE MEL num chalé em frente ao lago em CRYSTAL LAKE, compraríamos uma bela casa de cerquinha branca na ELM STREET, influências dos nossos padrinhos FREDDY KRUEGER e JASON VOOHEES. Se o casamento não andasse assim uma Brastemp, vítima da sufocante rotina e tédio, nada de stress. Era só a gente procurar nosso psiquiatra favorito, o Dr. HANNIBAL LECTER. Aliás, pra quebrar a monotonia, que tal um pernoite no BATES MOTEL? Pra finalizar, a animação da festinha dos pimpolhos vindouros ficaria a cargo dos IT- OS PALHAÇOS ASSASSINOS!

Eu sei... parece estranho querer se casar com uma criatura que gera tanto ódio, talvez até você mesmo tenha se revoltado comigo logo ao ler o título, mas prometo provar por A + B que seria a melhor coisa para mim e para a vida da maioria das pessoas que conheço. Talvez no final do texto eu terei alguns rivais para disputar comigo o amor da bela e malvada Suzane.

Desculpe, mas é quase impossível evitar o humor negro e dizer que uma das maiores vantagens é não ter sogra. Nem a velhinha enxerida e palpiteira da minha mãe ia se meter a besta. Ela sabe – ou pelo menos deve imaginar – como fica a minha querida SU quando é contrariada. Ainda tem mais: quando um diretor de tv ligar no meio da noite pedindo um ‘HELP’ de graça, seria fácil despachá-lo. É só dizer ‘MINHA ESPOSA VAI COMIGO E ENQUANTO A GENTE RESOLVE O PROBLEMA, ELA FICA BATENDO PAPO COM A SUA FILHA...’ Garanto que ia ser tiro e queda e, no quesito trabalho, as minhas noites seriam mais tranquilas.

Olha que eu nem contei o aspecto financeiro. Se desse sorte, poderia morar naquela luxuosa casa no bairro de SANTO AMARO aqui em Sampa. Ela abriu mão da herança!!?? (ã-hã) Só falta você me dizer que acredita em político honesto, advogado com elevados padrões morais e publicitários inteligentes (rs.) Tem gente que não moraria numa casa daquelas por medo de assombração e coisa e tal. COMO O BRASILEIRO É BESTA!!! Se morrer de forma violenta num local fosse licença para assombração, não existiria lugar seguro para se morar na Europa. Pensem bem, se contarmos só o Século XX, foram 2 guerras mundiais que mataram de forma saguinária milhões de pessoas onde hoje existem casas e parques, sem contar as mortes da Idade Média por peste negra e toda uma gama de doenças. Se fosse assim, a Europa teria um excesso de encostos e era bom a Igreja Universal ir correndo para lá (rs.)

Voltando ao meu ‘docinho de coco alemão’, quer dizer, a Suzane, esqueci de falar como seria maravilhosa nossa intimidade, aquele momento a dois. Imaginem a minha noite de sono. Eu debaixo das cobertas tentando esquentar os pés nestas noites frias (quem gosta de pantufas - como sabemos - é a própria Suzane) enquanto observava minha amada ‘metade da alma’ se preparando lentamente para deitar com uma tesoura na mão. Seria no mínimo emocionante. Imaginem então descobrir que a Suzane fala dormindo e ouvir ela dizer baixinho em plena madrugada ‘ RATAM, RATAM...’ Seria como estar num filme de Stanley Kubrick, para ser mais preciso, esta cena ocorreu no clássico O ILUMINADO, uma das obras-primas do diretor. Se vocês preferem a versão na língua de Shakespeare, imagine a doce SU murmurando ‘ REDRUM, REDRUM...’ que no fundo dá no mesmo do ‘RATAM’ e quer dizer ‘MATAR’ ao contrário.

Ser casado com a Suzane Von Richthofen significa nunca saber se você vai acordar no dia seguinte... e isso seria maravilhoso. Assim, poderia de fato ser eu mesmo, viver preocupado com que apenas importa – nada de cultivar besteiras - talvez eu nem esteja por aqui no dia seguinte para continuar tais besteiras. Poderia ouvir IRON MAIDEN no último volume o dia todo, não precisaria tratar ninguém bem só por educação e só faria aquilo que eu AMASSE pra valer!!! Cada dia – extra da minha vida – seria preenchido por novas cores e gostos, prazer apenas no simples e belo, nada de falso. Poderia finalmente me lançar em novos projetos que sonho há anos sem medo de fracassar e não brigaria por banalidades. Gastaria dinheiro somente para coisas úteis: alimentação e tudo aquilo que dá prazer, impostos!? Nunca mais pagaria nenhum. Acabariam os Natais hipócritas e Anos Novos entediantes. Faria aniversários e daria grandes festas apenas para aqueles que eu realmente gostasse. Falaria a palavra AMOR com mais frequência. Compraria o carro dos meus sonhos e viajaria a maior parte do tempo, sem ter culpa por estourar o cartão de crédito ou o cheque especial. Iria a mais shows de rock e pegaria menos filas de supermercado, entenderia mais as pessoas a minha volta...

Parece perfeito e realmente é. Parece uma daquelas coisas que só o papel ou a internet aceita, mas já vi isso acontecer há uns cinco anos. Nem sei se este casal ainda está por aqui, o fato era que os dois eram HIV positivos já num estado avançado. Ninguém contaminou ninguém, se conheceram assim durante o tratamento, decidiram se casar e nunca mais perderam tempo!!!! Eram realmente felizes e viviam um dia de cada vez fazendo cada um por si e pelo outro o melhor que podiam – sem cobranças idiotas típicas das relações. Era uma vida a dois em tudo realmente podia ser apreciado e vivido de forma intensa, extraindo o melhor do momento presente.

Dizem que algumas mulheres podem libertar seus parceiros, talvez Suzane Von Hichthofen, com toda a sua maldade, fosse uma delas em minha vida. Sem dizer uma única palavra, ela mostraria o quanto hesitante eu ando frente a vida e a minha própria felicidade. O que me impede são meus medos e sem eles, com ou sem Suzane, eu seria FELIZ DE VERDADE...

Cristian Boragan

terça-feira, 12 de maio de 2009

FIB: O GOVERNO QUER QUE VOCÊ SEJA FELIZ


Mais uma daquelas da Revista Vida Simples. Você sabe o que é FIB? É a sigla para Felicidade Interna Bruta, um índice desenvolvido por Singye Wangchuck, o Rei do Butão, um pequeno país encravado entre a China e a Índia. Preocupado com o bem-estar dos súbitos, o rei do Butão criou há mais de 30 anos este índice social que tem como meta avaliar a felicidade de um povo.



(esta reportagem – na língua de Shakespeare – explica um pouco a Felicidade Interna Bruta)

E como a felicidade pode ser mensurada?

Segundo as normas do "gross national happiness" (GNH), nome em inglês para a FIB, a felicidade de um país está contida nos seguintes itens:

- Padrão de vida econômica
- Educação de qualidade
- Saúde
- Expectativa de vida e atividade econômica
- Proteção ambiental
- Acesso à cultura
- Bons critérios de governança (esta não passa aqui no Brasil)
- Gerenciamento bem equilibrado do tempo (está aqui então, sumariamente reprovada em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro)
- Bem-estar psicológico (só se a Rede Globo nunca mais exibir o Big Brother e filmes como O Diabo Veste Prada)

A FIB mundo afora

O que parecia uma idéia pouco aplicável de um dos últimos reis do planeta começou a atrair a atenção de uma série de governos. O Canadá, por exemplo, já criou o seu índice de bem-estar baseado nos critérios do GNH.

O Brasil copia

Brasileiro é brasileiro e não desiste nunca, não é mesmo? Por isso, por que não aplicarmos a FIB por aqui?

A cidade paulista de Angatuba, a 181 km de São Paulo já aplica um ‘genérico’ da FIB. Aqui em São Paulo, o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge propõe a partir já deste ano iniciar pesquisas de medição da FIB em subprefeituras da capital. "Seria uma maneira de a cidade contribuir com esse esforço internacional, com adaptações à realidade da metrópole", disse. "O ideal seria começar numa subprefeitura central, como Pinheiros, e em outra periférica, como Parelheiros. É uma boa sugestão para a próxima gestão." Fonte – Estadão

Até um Congresso já foi feito na cidade de São Paulo, realizado pelo Instituto Visão Futuro no dia 31 de outubro de 2008 no Sesc Pompéia. O evento trouxe as estrelas do Butão para explicar a FIB. Veja o clipe.




Então, meus amigos, a felicidade já virou questão de Estado. Tem até rei preocupado com isso.

Cristian Boragan

quarta-feira, 6 de maio de 2009

UMA TARTARUGA DE UM OLHO SÓ


A Origem

Este é um conto budista, de mais ou menos 2.500 anos. Quem primeiro contou essa história foi o príncipe Sidarta, mentor intelectual do Budismo, aquilo que alguns chamam de religião e outros de filosofia de vida.

A Primeira Versão

Em todas as religiões e filosofias, contos são muito comuns para passar certos conceitos ao povo. Este, o da tartaruga, tem como objetivo moral falar sobre a verdadeira forma de budismo. Como nas religiões daquela – e por que não dizer, desta época também – é comum afirmar que o seu ponto de vista é o certo e todos os outros estão, no mínimo, equivocados.

A versão da tartaruga do príncipe Sidarta fala de um anfíbio que tinha apenas um olho e vivia no fundo do oceano. Sem a visão dupla, a tartaruga facilmente confundia o leste com o oeste, o norte com o sul. Só para piorar, a tartaruga tinha outros dois problemas: seu casco era muito frio e a barriga muito quente. A solução era encontrar o tronco certo, um tronco de sândalo em que ela poderia encaixar seu casco e subir para a superfície a cada cem anos para esquentar as costas e esfriar a barriga e assim, ter um pouco de vez na vida.

As Metáforas

A tartaruga perdida à procura do tronco certo de sândalo simboliza as pessoas que também estão perdidas em meio a tantas filosofias de vida. Apenas o tronco de sândalo certo (budismo de Sidarta) servia para que a tartaruga atingisse seu objetivo. O calor e o frio representam os problemas de cada um pelo mundo afora. Para alguns estudiosos, o poder anestésico do sândalo serve para explicar como a tartaruga esfriava a barriga.

A Vida da Tartaruga se Complica

Nitiren Daishonin (pronuncia-se Daishônin) foi um monge japonês que viveu no século XI. Ele criou sua própria linha budista, conhecida como budismo-Nitiren. O Japão do período de Nitiren foi violento, marcado por uma ampla desigualdade social entre o povo e as elites. O budismo tradicional, segundo Nitiren, havia se tornado ritualístico de uma tal forma que poucos conseguiam entendê-lo. A grande contribuição do monge foi simplificar e tornar prático o budismo para o homem comum. O que Nitiren fez pelo budismo é em certo grau parecido com o que Calvino e Lutero fizeram com o Cristianismo alguns séculos depois.

Nitiren sofreu muitas perseguições durante a vida, certa vez escapou de ser decapitado graças a um eclipse. O episódio semelhante foi reproduzido neste desenho do Pernalonga



(a cena do eclipse está no final e não foi possível descobrir se a história real de Daishonin influenciou o desenho, embora se saiba que muito da mitologia grega influenciou alguns episódios do Pernalonga, como o mito da raposa e a lebre)

De certo, para o monge não foi nada fácil emplacar o seu budismo com tantas perseguições. O recurso utilizado para falar da sorte de ter encontrado uma verdade em meio a tantas dificuldades foi falar da nossa velha amiga tartaruga.

Agora, além de um olho só, a tartaruga é vesga, não tem patas e leva mil anos para encontrar o tronco certo de sândalo. Tudo para reforçar – e como – a importância da informação correta.

A minha versão

Numa noite eu ouvi todas as explicações acima. Estava com o projeto de fazer este blog para a minha faculdade, a Fapcom, para o curso de jornalismo. Em vez de pensar no ensino correto do budismo, a metáfora da tartaruga a procura do tronco certo, perdida, sem ter idéia da própria direção representa nossas próprias buscas na web. Já tentou achar alguma coisa no Google? Você descobre tudo, menos o que realmente quer. E nos portais, o tal do conceito da usabilidade? Pois bem, pense, ou melhor, navegue um pouco por aí. Você se sentirá a própria TARTARUGA DE UM OLHO SÓ.

Este Blog

Este blog apresenta de forma jornalística – não muito tradicional – a minha versão da tartaruga e o tronco de sândalo. A tartaruga encontrava milhares de troncos todos os dias, mas necessitava de apenas um, não o mais perfeito, mas aquele que se servisse para as suas necessidades. Às vezes, numa mera pesquisa no Google à procura de algo banal sinto-me como aquela tartaruga, em busca do tronco certo (informação) paras as minhas necessidades.

Publicarei algumas teorias, usarei do jornalismo para prová-las, mas não tenho a pretensão da verdade absoluta, só almejo algo de novo na rede. Desejem-me sorte!!!!!

Cristian Boragan